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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

MEMORIAL

ESTAS MÃOS (Cora Coralina)
Olha para estas mãos
de mulher roceira,
esforçadas mãos cavouqueiras.
Pesadas, de falanges curtas,
sem trato e sem carinho.
Ossudas e grosseiras.
Mãos que jamais calçaram luvas,
Nunca para elas o brilho dos anéis.
Minha pequenina aliança.
Um dia o chamado heróico
emocionante:
- Dei Ouro para o Bem de São Paulo.
Mãos que varreram e cozinharam.
Lavaram e estenderam
roupas nos varais.
Pouparam e remendaram
Mãos domésticas e remendonas.
Íntimas da economia,
do arroz e do feijão
da sua casa.
Do tacho de cobre,
Da panela de barro.
Da acha de lenha.
Da cinza da fornalha.
Que encestavam o velho barreleiro
e faziam sabão.
Minhas mãos doceiras...
Jamais ociosas.
Fecundas, imensas e ocupadas.
Mãos laboriosas.
Abertas sempre para dar,
ajudar, unir e abençoar.
Mãos de semeador...
Afeitas à sementeira do trabalho.
Minhas mãos raízes
Procurando a terra.
Semeando sempre.
Jamais para elas
os júbilos da colheita.
Mãos tenazes e obtusas,
feridas na remoção de pedras e
tropeços,
quebrando as arestas da vida.
Mãos alavancas
na escava de construções
inconclusas.
Mãos pequenas e curtas de mulher
que nunca encontrou nada na vida.
Caminheira de uma longa estrada.
Sempre a caminhar.
Sozinha a procurar,
o ângulo perdido,
a pedra rejeitada.
As mentes mais avançadas nos ensinam que em breve o que está errado no mundo terminará, pelo fato de ser impossível continuar existindo desse modo. Sabemos que tudo acontecerá por meio de crises intensas, mas que isso terminará criando uma nova maneira de viver em todas as áreas.
No trabalho, as reformulações serão grandes. As grandes mudanças, todavia, ocorrerão na maneira de ver o trabalho como um fator de evolução para as relações entre os homens, capaz de mudar sua condição espiritual. Essas alterações terão como base novas idéias a respeito de cooperação e de produção.
Os problemas de trabalho passarão a ser vistos com um olhar global, analisados a partir das implicações que têm para o grupo como um todo, não estando limitados a um raio de ação individual.
As barreiras irão sendo eliminadas e a produção não será mais vista como assunto de um país, de uma empresa ou de um grupo econômico. Todas as pessoas dependerão mais umas das outras por necessidade, e também por uma nova cultura ou mentalidade universalista.
Toda organização estará voltada para e cooperação. Quem não entender isso não conseguirá permanecer. A consciência da obrigação de trabalhar será mais forte em cada homem; no entanto, as pressões internas para o trabalho diminuirão, pois a verdadeira valorização estará na hamonia interior.
As verdadeiras conquistas do trabalhador serão a valorização da sua experiência, a vivência de novos aprendizados, a descoberta do que é útil ao grupo, a capacidade de mediar os conhecimentos, ensinando aos que iniciam e aprendendo com eles.
É neste contexto descrito acima que se insere a concepção que temos do trabalho desenvolvido durante as oficinas do programa. A maior lição que se tira é que a reflexão sobre a práxis é o caminho para que as mudanças almejadas para uma educação de qualidade se efetivem. As diversas discussões que aconteceram nos encontros nos remetem a essa análise. Enfocamos muito a questão do compromisso do educador com a qualidade da aprendizagem de seus alunos. E isso passa pela importância que a leitura e escrita têm em nossa vida. O professor que não lê e não escreve não consegue formar leitores e escritores eficientes.
Os vários depoimentos dos cursistas confirmaram que os cursos de formação continuada é o caminho para que seja oportunizado ao professor o seu aperfeiçoamento.No nosso município existe uma preocupação com os resultados do IDEB (o nossso está abaixo da média) e acreditamos que o Gestar II possa contribuir para que este ano nossos índices sejam melhores, já que enfatizamos muito o trabalho com as matrizes curriculares. As atividades desenvolvidas favorecem o trabalho com essas matrizes.
Uma outra questão em foco foi o agir em função de desejos. O ser humano age em função de algum resultado, seja econômico, material, político, amoroso, ou até mesmo o simples prazer de viver o momento. Ou seja, age para suprir uma carência.
A ausência do desejo, na construção de resultados, manifesta-se sob um modo apático de conduzir os atos do cotidiano. Não há "garra'; vai-se mais ou menos. E, então, a vida, as práticas, os resultados, tudo se torna linear e comum. Não ocorre vibração, alegria e, por isso, também não ocorrem resultados significativos, alegres e felizes. E sendo assim, acreditamos que nossos cursistas perceberam que esta é a questão que se coloca no momento, considerando que somente salários não são suficientes para modificar nossa prática. É necessário que nos incomodemos com a realidade da educação no nosso município: escolas sem infra-estrutura adequada; alunos que chegam à quinta série sem ter domínio mínimo da leitura e da escrita (alguns não estão alfabetizados); etc. para que possamos mudar essa situação.
Parefrasendo o poema : a semente foi plantada. Agora espera-se que ela tenha caído em terras férteis para que possa produzir os frutos que desejamos. Muitas vezes me angustiei com as situações relatadas pelos cursistas da sua realidade escolar. Mas tmabém tenho certeza que a ansiedade, a angústia, enfim, a inquietação é responsável pela busca das soluções. Acredito que não temos respostas para todas as questões, mas semeamos a vontade de buscar, de querer mais, de encontrar respostas. Penso que esta é minha tarefa: provocar a vontade de modificar a situação que incomoda. O comodismo não gera mudança. A procura pelo curso é uma mostra de que nossos professores estão inquietos, que não aceitam as condições que lhes são oferecidas. Dizer que todos os objetivos propostos foram atingindos é muita presunção. Alguns foram alcançados, outros transformados e outros adiados. Penso que estes que foram adiados serão a alavanca de uma proposta de ensino de Língua Portuguesa que venha atender às necessidades dos nossos educandos.
Para finalizar, deixo o texto de Monique Wermuth Figueiraas para reflexão:
A FELICIDADE AJUDA NA BUSCA DO SUCESSO PROFISSIONAL
Como dá para ser feliz num mundo cheio de pressão?
Felicidade e sucesso andam juntos.
A felicidade é o sucesso da alma e o sucesso é a felicidade da realização.
Devemos ultrapassar o simples viver por viver e saber colocar-nos perante a vida, seus desafios e, principalmente, os próprios objetivos. É preciso aprendermos a enfrentar o mundo de hoje, a competição não tradicional.
Perdedores gostam de reclamar, acusar culpados e dar desculpas, o que só faz aumentar os seus problemas.
Os campeões estão sempre olhando para cima e criando o futuro.
Para sermos felizes devemos ter:
- Competência - estudo e continuidade.
- Reciprocidade - solidariedade, boas relações interpessoais.
- Realização - objetivos bem claros e definidos.
- Sentidos - amar ao que faz, dedicação e comprometimento.
O sucesso não é construído só durante o trabalho, mas quando você se capacita mais que o outro para executá-lo.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

OFICINA DE LÍNGUA PORTUGUESA

OFICINA DE LÍNGUA PORTUGUESA
TP: 6 UNIDADES: 23 e 24
PAUTA:
01. Sensibilização
02. Dinâmica
03. Fundamentação teórica
04. Atividades do TP
05. Planejamento
06. Apresentação dos trabalhos produzidos
07. Avaliação dos trabalhos
08. Dinâmica de encerramento
A leitura compartilhada do texto "Pessoas são presentes" emocionou a turma que estava já num clima de despedida. Foi feita uma dinâmica que focalizou a importância das pessoas. O encontro foi marcado pelo entusiasmo dos cursistas com os resultados conquistados com seus alunos. Alguns relataram sobre seu crescimento profissional que provocou mudanças na sua prática, atribuindo mérito ao Gestar que oportunizou e provocou essa mudança, através das atividades propostas e incentivo para o compromisso que os professores devem ter com a aprendizgem dos alunos.
Para iniciar o trabalho com as etapas da produção textual:revisão e edição foram distribuídos alguns textos que os cursistas produziram ao longo do desenvolvimento das oficinas e pediu-se que, em grupos, analisassem os textos e fizessem as revisões necessárias, a partir dos parâmetros fornecidos:
01. Escreva o texto, observando que tipo de revisão você faz ainda durante o planejamento e a escrita. Anote as estratégias utilizadas;
02. Identifique os elementos que foram modificados nesta releitura, considere: a sequência das idéias e da lógica do texto; coesão; erros ortográficos, etç.
03. Releia o texto em voz alta a faça as últimas alterações. Atenção: é importante que você compare essa versão com a primeira edição.
04. Compare as versões e descreva sua avaliação do processo.
A socialização dessa atividade foi muito interessante, pois permitiu ao professor, avaliar o seu processo de criação e produção e, espera-se, ser mais compreensivo com as produções dos alunos. E, o que é mais importante, propor atividades que auxiliem os alunos com suas produções. Sabe-se que os alunos necessitam de "modelos" de escrita para que possam aperfeiçoar seus escritos e ninguém corrige aquilo que considera que está correto. Algumas sugestões de atividades de reescrita de textos foram socializadas, o que ajudou muito.
Em seguida foi feita a leitura do texto "Publicação: leitura da produção" de Antônio Gil Neto:
"Em se pensando ainda na publicação do texto do aluno, sugiro algumas atividades de leitura crítica, as quais o professor discute e decide conjuntamente com o grupo no sentido de a leitura ir complementando e estimulando quem está do outro lado do papel, exigindo participação e compromisso com o projeto do grupo. Começo sempre com a troca de leituras, as opiniões. Que percorram e sustentam todos os diálogos. Os alunos lêem os textos dos colegas e falam e escrevem sobre o que apreciaram. Um mural vai se montando logo após ou simultaneamente à troca de opiniões. Trata-se de um espaço privilegiado na sala ou nas dependências da escola onde os trabalhos são publicados. O título, a organização, os critérios de seleção de textos, a periodicidade e outras demais questões são discutidos, decididos junto com o grupo. No caso de ser um mural coletivo, abrangendo vários grupos-classe, participantes se reúnem com os demais educadores para decidir as questões relativas à publicação. Já se amplia então o campo de possíveis leitores e o intercâmbio das produções. Passar para um jornal da escola é só mais um passo. O que implica uma outra organização e dinâmica na intenção da veiculaçao da palavra do aluno por toda a escola. É claro que o professor se encarrega de assessorar a feitura do jornal e de propor a criação de uma equipe de publicação responsável por viabilizar a sua circulação e mais o título, o editorial, a programação visual, as seções, os tons de linguagem... Nesse ponto de realização é possível algum texto virar matéria de jornal do bairro ou da cidade. É a ampliação da publicação. É a escola devolvendo sua palavra à comunidade.
A troca de leituras também vai se ampliando. É um trabalho de participação e da rotina da escrita. Penso que gostamos de ler e dar opiniões sobre os feitos de nossos amigos. Temos curiosidades e expectativas. Os alunos embarcam nesse papel naturalmente. O professor vai organizando essa atividade dentro da dinâmica geral. Primeiro, impulsionando leituras, falando delas, orientando observações, investigando idéias, questionando dúvidas, mostrando detalhes importantes... Depois escrevendo e estimulando a escrita dessas leituras críticas. Bilhetinhos com alguns comentários críticos passam a ganhar espaço no texto dos colegas. Em meio a esses comentários pessoais, podemos bolar algo que se configure numa intenção coletiva: a publicação de uma antologia, um conjunto de textos representativos da classe que simbolicamente reúnem as experiências de linguagem vivenciadas pela classe.
E assim a leitura reeescreve o novo texto. Movimenta a palavra. E a vida também."
Após a discussão do texto de Gil Neto, distribui alguns textos para que os professores planejassem atividades que pudessem ser feitas a partir deles. Saõ eles: " POEMA TIRADO DE UMA NOTÍCIA DE JORNAL" de Manuel Bandeira; "CIRCUITO FECHADO" de Ricardo Ramos;
"CONGRESSO INTERNACIONAL DE MEDO" de Carlos Drummond de Andrade; "INFÂNCIA" de Carlos Drummond de Andrade; " O ANÃO VIOLONISTA E SEU ENORME CACHECOL" de Jorge Miguel Marinho; "ELOGIO DO APRENDIZADO" de Brecht; "PERGUNTA E RESPOSTA" de Adélia Prado; "AOS NOSSOS FILHOS" de Ivan Lins; "CORAÇÃO DE ESTUDANTE' de Milton Nascimento; "LUIZA"de Antônio Carlos Jobim; " MEU BEM, MEU MAL" de Caetano Veloso. Muitas propostas foram apresentadas pelo grupo. Muito bom.
Apresente uma proposta de atividade de literatura a partir do livro "GENTE, BICHO, PLANTA: O MUNDO ME ENCANTA" de Ana Maria Machado:
1ª proposta
Tendo lido o livro a história do professor Tomás, você pode perceber qual a impotância de um cientista. A partir dessa história, o grupo irá criar uma outra, parecida com ela.
Imaginemos que você more em um bairro por onde passa um rio cheinho de peixes. Você, seu pai e alguns amigos gostam de pescar lá, nos finais de semana. De repente, os peixes começam a aparecer mortos, e vocês já não podem mais pescar.
O que estaria acontecendo?
Todos resolvem investigar, mas como não são especialistas no assunto, chamam um cientista.
O que ele resolve fazer?
Conte todos os passos seguidos pelo cientista (pode dar um nome a ele), qual o resultado da pesquisa e que conselhos ele deu aos moradores do bairro.
2ª proposta
"Vida de planta, gente, animal tem de ser entrelaçada para não acabar mal". Este foi o conselho dado pelo professor Tomás ao povo daquele lugar.
Respondam:
01. Vocês acham que esse mesmo conselho ainda é válido para os dias de hoje? Por quê?
02. Em nossa cidade essas vidas estão entrelaçadas? Por quê?
03. Imaginem que vocês sejam chamados pelo prefeito de nossa cidade para darem sugestões de como colocar em prática a opinião do professor Tomás. Quais seriam essas sugestões?
3ª proposta
01. Vocês são juízes e foram convocados pelo governo para julgar os criadores de ovelhas (2ª história).
Afinal, eles foram culpados ou inocentes pela morte de ovelhas naquele lugar?
Haverá pena (punição) para eles?
Escrevam as suas opiniões e conclusões.
4ª proposta
Comparem a 1ª e a 2ª história e respondam:
01. O que há de diferente entre elas?
02. O que há de semelhante?
03. Qual delas lhes parece mais interessante? Por quê?
04. Que outras idéias vocês têm?
Cada grupo desenvolveu uma proposta e o resultado foi surpreendente. A grande polêmica girou em torno do júri simulado: acusação e defesa se enfrentaram e as opiniões foram diversas.
Relação de sugestão de títulos de livros que podem e devem ser utilizados em sala de aula:
Título Autor Série Tema
01. Felicidade não tem cor Júlio Emílio Braz 5ª Ética/ Preconceito/ Amizade
02. Amarelinho Ganymedes José 5ª/6ª Ética/ Cidadania/ Solidariedade
03. O livro do pode-não-pode Rosa Amanda Strausz 5ª/6ª Liberdade/ Limites
04. Amigo é comigo Ana Maria Machado 5ª a 8ª Solidão/ Ciúmes/ Inveja
05. As estrelas se divertem Heloisa Prieto 5ª a 8ª Justiça/ Pluralidade Cultural
06. O anjo linguarudo Walcyr Carrasco 5ª a 8ª Relacionamento familiar/ Ética
07. O primeiro dia de inverno Márcia Kupstas 5ª a 8ª Carreira/ Preconceito/ Ética
08. Valentão Ricardo Soares 5ª a 8ª Agressividade/Intimidação
09. Doce Manuela Júlio Emílio Braz 7ª/8ª Desemprego/ Meio ambiente
10. Fala comigo, pai! Júlio Emílio Braz 7ª/8ª Conflito de gerações/ Aventura
11. Irmão negro Walcyr Carrasco 7ª/8ª Preconceito racial/adoção
Encerramos o encontro com a dinâmica da distribuição de bombons. Foi ótimo. Marcamos a nossa confraternização para o dia 17 de dezembro.

...EU SEI, MAS NÃO DEVIA (Marina Colassanti)

"Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia:
A gente se acostuma a morar em apartamento de fundo e a não ter outra vista que não seja as janelas do corredor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não abrir as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltada porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasada. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder tempo. A comer sanduíches porque não dá pra almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar na condução porque está cansada. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz.
A gente se acostuma a esperar o dia todo e ouvir no telefone não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorada quando precisa tanto ser vista.
A gente se acostuma a andar nas ruas e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir aos comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigada, conduzida desnorteada, lançada na rua infindável dos produtos.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e pelo que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar trabalho, para ganhar mais dinheiro para ter como pagar mais coisas que se cobra.
A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos peixes dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinhos, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha os pés e sua no rosto e no corpo. Se o trabalho foi duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeita - porque tem sempre o sono atrasado.
A gente se acostuma para não raiar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas e sangramentos, para esquivar-se da faca e baioneta, para poupar a vida que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma."

MENSAGEM

TEMPO PARA AFIAR O MACHADO
( Nestor Adolfo Eckert)

Certo dia, um grupo de lenhadores resolveu fazer um concurso entre seus componentes. Tratava-se de disputar em duplas, um contra o outro, calculando tempo, rapidez, qualidade e quantidade de lenha que cada um conseguisse cortar. Quem cortasse mais lenha, da melhor maneira e menor tempo, venceria o concurso.
Um jovem teve a sorte de disputar com um adversário já bem avançado em idade. Cada um com seu machado em mãos e, ao sinal dado, iniciou-se a disputa.
O jovem lenhador, todo animado e confiante, dava pancadas para valer, com relativa rapidez e continuadamente. Suava. E quanto mais transpirava, mais animado se sentia, confiante na vitória. De vez em quando, espiava para o lado querendo saber como estava seu adversário, o velho lenhador. Às vezes, percebia que o velho estava sentado, sem dar machadadas. Isso o animava mais, confiando na vitória certa.
Ao fim do tempo estabelecido para ambos, os juízes apuraram a quantidade de lenha cortada, que cada qual havia conseguido. Feitas as contas, verificou-se que o idoso havia cortado bem mais lenha, com melhor qualidade, menos desperdício e menor tempo do que o jovem.
O jovem dirigiu-se ao velho e lhe perguntou: " Como foi possível o senhor vencer, pois que de vez em quando o senhor estava sentado, sem fazer nada, enquanto eu não parei de cortar lenha?"
O lenhador idoso, com muita compreensão, olhou para o jovem e lhe disse: " Eu de vez em quando, estava sentado, sim. Mas, não sem nada fazer. Nesses momentos, eu estava afiando meu machado. Isso facilitou e melhorou o meu serviço.